Por que o Bonete é tão incrível?
Passado indígena, cultura caiçara, beleza natural surpreendente. Veja por que quando o assunto é Bonete, muita gente diz “é a minha praia”.
Sabe o que os portugueses viram quando chegaram ao Brasil, mais de 500 anos atrás? É só contemplar o mirante do Bonete para ter uma ideia. Mar azul, areia dourada e a imensidão verde da mata virgem. Esse paraíso no sul de Ilhabela é um desses poucos lugares que ainda é isolado, longe da tecnologia e bonito por natureza. Difícil de acreditar que um reduto quase deserto fique tão perto de São Paulo, a umas 4h da capital.
Mas a história desse cantinho com ar rústico começou bem antes dos nossos patrícios botarem os pés ali. A herança dos caiçaras é ainda mais antiga. E é nessa volta ao passado, tão encantadora quanto a praia em si, que a gente vai embarcar agora.
Um pouco de história…
Era uma vez uma comunidade indígena que tinha uma marca registrada: construía monumentos gigantes com conchas, os sambaquis (muitas dessas “montanhas” de cascas de moluscos serviam de cemitério para os antigos sambaquieiros). Mais de 8 séculos atrás, foram eles os primeiros povos do Bonete, que só se chamou Bonete mais tarde (calma que a gente já vai chegar lá).
Com um monte de peixe dando sopa no mar, bastante animal pra caçar, matéria-prima e água doce de sobra, não precisa nem dizer que muita gente queria morar lá, né? Foi aí que um outro grupo de índios, que eram horticultores e ceramistas, foi chegando e dominando o pedaço.
Mas como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, lá pelo século XVII foi a vez dos colonizadores chegarem pra ficar. E a sesmaria dessa praia foi doada sabe pra qual família? A Bonete – sacou agora de onde vem o nome da praia, né? (Pausa pra quem colou na escola: sesmarias eram os lotes que os rei de Portugal davam aos primeiros colonizadores para o cultivo de terras virgens.) Na Praia do Bonete havia plantação de cana, engenho de açúcar e muito trabalho escravo.
A fé dos caiçaras
Com tanto europeu zanzando por aquelas bandas, não é de se espantar quando a gente encontra caiçara do Bonete de olhos azuis e cabeleira loira. Mas a herança dos desbravadores dos mares vai além das feições. A religião católica trazida com eles ainda se mantém viva.
Uma das mais tradicionais celebrações religiosas de lá é a Festa de Santa Verônica, considerada a padroeira do Bonete. O dia dedicado a ela é 9 de julho, quando é realizada uma grande festa, com direito a fogos de artifício e missa com ladainha em latim.
Bonete hoje
Do passado, além da tradição religiosa, os caiçaras do Bonete também guardam a coragem dos povos antigos, dominando o mar bravo, a pesca, a lavoura e a produção de farinha de mandioca.
Do futuro, os caiçaras receberam energia solar, um luxo para quem tinha que salgar a carne pra não estragar por falta de refrigeração. A pequena hidrelétrica da praia não dá conta de fornecer energia o dia todo e bancar o gerador não é um custo que cabe no bolso de todo mundo.
É assim que a comunidade de uns 250 moradores vive hoje. E recebe os visitantes de braços abertos. Sim, lá tem camping, pousada e restaurante pra atender o turista. E a simplicidade é o atrativo. Um lugar estilo offline, pra se desconectar de tudo.
E a praia, então? Uma faixa de 600m de areia com o rio Nema desaguando no canto, cheio de canoas coloridas tradicionais de lá. À frente, um mar azul que é um sonho pra quem curte pegar onda. E não é daquela pra pegar jacaré, não. É onda grande, de uns 3m de altura, pra surfista fazer a festa.
É claro que pra chegar até lá tem (muito!) chão. Você não acha que se Bonete estivesse dando sopa aí seria um paraíso tão preservado, né? Mas pra muita gente o caminho recompensa quase tanto quanto o destino. São 15km de uma trilha que começa na Ponta do Sepituba (dá pra deixar o carro num estacionamento ali) e passa por cachoeiras transparentes (como a da Laje e do Areado), bem no meio da Mata Atlântica. A caminhada é puxada, leva de 3 a 6 horas (isso contando as paradas pra se refrescar). Também dá pra chegar lá por mar (aí são só uns 40 minutos e tem um monte de agência que oferece o passeio de barco).
O ideal é dormir no Bonete e jantar à luz de vela sob o brilho das estrelas. Pra voltar pra Sepituba, também dá pra contratar o serviço dos boneteiros, que fazem o percurso de canoa ou chata. A não ser que sobre energia, né. Aí, dá pra encarar a trilha de volta também.
Claro que ao longo dos séculos, Bonete mudou. Mas a “cara” de uma das 10 praias mais bonitas do Brasil no ranking do jornal britânico “The Guardian” ainda é de cair o queixo.
Magda Pereira
Bonete é onde eu passarei o restante dos meus dias, nasci e cresci em fazendas vida simples e completa, paixão pelo mar… Me levou até Ilhabela, mais preciso em bonete.so estando lá pra saber até breve.