Festival da Sardinha: saúde, sustentabilidade e tradição no prato
Esse final de semana, Ilhabela celebrou uma de suas tradições mais gostosas e cheias de significado: o Festival da Sardinha. A festa marca a época de abundância desse peixe no nosso litoral e homenageia os saberes da pesca artesanal e da culinária caiçara — tão ricos quanto o próprio mar que nos cerca!
A sardinha, além de acessível e saborosa, é um verdadeiro tesouro nutricional. Rica em proteínas e ômega-3 — um tipo de gordura essencial para o cérebro e o coração — ela marca presença em padrões alimentares mundialmente reconhecidos por promoverem saúde e longevidade, como a dieta Mediterrânea.
Mas, ao falar de peixe no prato, surge uma questão importante: será que todos são iguais?
Nem todo peixe vem do mesmo lugar — e nem todos trazem os mesmos impactos. Existe uma diferença enorme entre os peixes criados em cativeiro e os peixes selvagens, como as sardinhas pescadas aqui na ilha, de forma artesanal e respeitando os ciclos da natureza.
Peixes de cativeiro são criados em tanques superpovoados, o que aumenta consideravelmente o risco de disseminação de doenças. Para prevenir isso, é comum o uso constante de antibióticos. Além disso, em algumas espécies — especialmente as fêmeas — são utilizadas altas doses de hormônios para induzir a reprodução fora da época natural. No fim das contas, quem consome esses peixes também pode acabar ingerindo resíduos dessas substâncias.
Já os peixes selvagens, pescados em alto-mar, crescem de forma natural, sem interferência química ao longo do seu ciclo de vida — o que garante mais valor nutricional e menos contaminação no prato.
Praia de Santa Tereza em Ilhabela
Mas nem todo peixe selvagem vem de uma pesca sustentável.
O impacto muda completamente dependendo do tipo de pesca. Enquanto o peixe capturado de forma artesanal vem de um manejo consciente — feito por pescadores que conhecem os ritmos do mar e respeitam o tempo de cada espécie —, o peixe extraído pela chamada pesca de arrasto segue um caminho bem diferente.
Essa prática industrial, feita em larga escala, literalmente revoluciona o fundo do mar com redes gigantescas, arrastando tudo o que encontra pela frente.
Essa técnica não apenas captura toneladas de peixes de uma só vez, como também mata espécies que nem sequer seriam consumidas, como tartarugas, golfinhos e peixes ainda jovens. O impacto no ecossistema é profundo, e ameaça não só a biodiversidade marinha, mas também a sobrevivência das comunidades pesqueiras tradicionais.
Já a pesca artesanal, como a praticada aqui em Ilhabela por pescadores caiçaras, é feita com conhecimento, respeito e responsabilidade. Ela fortalece a economia local, mantém vivas tradições ancestrais e garante um alimento mais fresco, limpo e verdadeiramente conectado com o território.
Durante o Festival da Sardinha, tive o prazer de conversar com o chef de cozinha Luccas Pinho, caiçara tradicional da praia de Guanxumas — uma comunidade isolada aqui da ilha — que estava presente no evento conduzindo a cozinha. Perguntei a ele sobre a importância do consumo de peixes locais, pescados artesanalmente. E a resposta foi clara:
“É isso que fomenta a cultura e alimenta as famílias das comunidades tradicionais. Eu e meus irmãos fomos criados pelo meu pai, que é pescador, e boa parte da minha família vive dessa renda. Então, consumir um pescado da Ilha é fortalecer toda a comunidade.”
Então, da próxima vez que visitar Ilhabela, procure consumir peixes locais e da época. Você vai estar não só cuidando da sua saúde, mas também celebrando os saberes caiçaras, ajudando a preservar a cultura da ilha e fomentando a economia das comunidades que vivem do mar.
Festivais de Ilhabela reúnem gastronomia e cultura tradicional caiçara à beira mar, eventos para toda a família
Outros festivais de Ilhabela que celebram a pesca artesanal
Julho – Festival da Tainha
Agosto – Festival do Camarão
Dezembro – Festival do Xarelete
Confira as datas neste outro post.